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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Diálogo virtual entre Clara Dawn e *Fausto Valle - em 07/12/2007


- Querido amigo e escritor Fausto Valle,
Como vai? Sempre passo nas segundas-feiras para regar minhas plantinhas e aproveito para deixa-las na companhia de meu texto. Gostaria de pedir uma especial atenção e relevante sugestão. Estou ainda procurando qual é o melhor estilo a minha sintaxe. Os dois ultimos textos, foram crônicas propiamente ditas, com fundo político. Mas uso a metalinguagem e também contos fictícios. Talvez, quem sabe, você possa me sugerir qual estilo eu desenvolvo melhor e qual é o mais agradável de se ler. Estou aberta a sugestões. Adoro escrever, o resto para mim é sacrifício, mas busco um caminho, onde o que eu escrevo faça sentido e marque a vida do leitor. Conto com você. Sua opinião, me é muito cara! 

- "Querida Clara Dawn,
Você me pede uma coisa dificil, talvez impossível. Antes de mais nada, quero dizer que você escreve bem. Ponto. Você tem um estilo, todos que escrevem, mesmo mal, têm um estilo. O estilo é como se fosse o seu DNA literário, é a sua marca. Você pode mudar como quiser um texto que qualquer leitor seu dirá: "tá diferente mas, é a Clara". Dentro de suas características, seu estilo mudará com o tempo mas, nunca perderá o DNA. É você quem comanda o seu estilo,   não é o josé quem dirá como você deve escrever, nem o juca. Estou aqui ensinando o padre-nosso ao vigário mas, é que achei insólito e interessante o seu pedido de sugestão o que, ao meu modo de ver, seria um tema para estudo. Fico mesmo pensando o motivo que a levou a fazer tal pedido. Finalizando, você sabe muito bem que é dona de seu texto e de seu estilo e talvez queira saber o que pensam os seus pares. Um abraço".  Fausto

- Querido Fausto Valle,
Nossa, você me deu uma "taca", rsrs. Amado, estou apenas iniciando minha jornada  literária, como uma criança, levando mais tombos, do que ficando de pé.  Sinto-me insegura... de fato insegura, não com o meu talento, mas se estou no caminho certo. Mesmo que não pareça, estou apavorada com tantos E-mails e comentários nos sites que escrevo, sobre minhas crônicas. Nenhuma critica negativa, apenas elogios...hehe, parece que tem caroço nesse angu. Querido Fausto, o pedido de socorro e sugestão, foi mesmo com a intencionalidade de chamar a atenção dos pares. Que bom que consegui chamar a sua. Não quero que elogie o meu trabalho, quero mesmo é franqueza, como por exemplo o amigo *Edival Lourenço disse que não gostou da "arrotação" de Penelope no texto "As teias de Penelope". Achou de gosto duvidoso. Ele sempre puxa minha orelha e isto faz-me crescer. Gosto e tenho humildade para aprender. Suas honestas e brabas observações me deixaram feliz, sinal de quê, de algum modo consegui cutucá-lo. Adorei fazer isto e adorei você ter respondido. Obrigada! Ah, pode ensinar o "pai nosso", pois este vigário aqui, sabe rezar não moço!
 Afetuoso abraço de Clara Dawn

- "Clara, o que você tem e que a maioria não tem é um atributo raro em nosso meio literário: modéstia e pé no chão. Não atribua o sentido de "taca" às minhas palavras. Não tenho condições de dar taca em ninguém O que queria dizer e talvez não o tenha feito de modo inteligivel, ou adequado, foi  que o estilo é seu e ninguém o muda, só você mesmo, ao longo do tempo, burilando-o, aprimorando-o, conforme sua experiência. O que se pode é comentar o seu estilo, não dirigi-lo ou palpitando o seu texto:"isso tinha que ser assim ou assado". Parabéns pela sua atitude saudável perante a literatura!   Sua insegurança significa um dado positivo para mim. Isso a faz buscar os meios adequados à sua evolução. Só os medíocres são seguros do que fazem - e acreditam estar no Panteão das Letras. O Edival me dá uns pitacos também, de vez em quando. Somos amigos.  Abraço de" Fausto Valle

* Fausto Valle - médico, contista e poeta. Faleceu no dia 12 de maio de 2010
* Edival Lourenço - Presidente da União Brasileira de Escritores de Goiás (na foto abaixo junto com Fausto Valle na entrega do Troféu Tiokô)

O Valle Fausto - por Clara Dawn

Ele se deu conta de que estava caminhando ao ar livre no Valle Fausto, sob um céu diurno brilhante. Podia ver as nuvens em movimento, tranquilamente e com precisão, como se houvesse grandes condutores celestiais coordenando o balé de nuvens figuradas por jocosos animaizinhos.

Era 12 de maio de 2010 e o dia estava especialmente lindo! O sol apareceu sorrindo, no alto das montanhas em talhe, fazendo o verde embaçado pela neblina retomar a força de sua cor, num imenso tapete com vários tons de verde. A brisa suave dizia que o dia seria ensolarado.

Ele caminhava lentamente pela relva ainda úmida. Chegando a tocar em gotículas que, vez ou outra, caíam dos galhos daquelas árvores bucólicas. Avistou ao longe, na margem perpendicular do lago, a velha casa edificada por seus ancestrais. Sentiu-se próximo dos tempos de menino. Aproximou-se mais um pouco, sentindo no ar o cheiro agradável de um bolo quentinho, ainda no forno, misturando-se ao perfume das flores do campo, o que transformava o ambiente num verdadeiro paraíso.

Percebeu a quietude do lugar, e sentiu que a paz entrara por todos os poros de seu corpo, fazendo-o quase levitar. Sorriu para as crianças que estavam quietas sentadas na varanda, com roupas limpas e os pés calçados. Não havia barulho de bola quicando no chão, nem cantos de roda. Convidou-as para brincar, mas foi ignorado.

Num repente, suas lembranças o transportara para o futuro, no universo urbano de Goiânia, aonde ele se viu entrando em casa ainda absorto em seu Valle Fausto. Havia em seu rosto uma alegria contagiante e ele queria que todos os presentes compartilhassem de sua felicidade. Observou com um entusiasmo infantil as flores naturais que adornavam a mesa de mogno no centro da sala, tocando-as com ternura e aspirando o seu perfume. Sua felicidade naquele dia era tamanha que não atinou que rostos pálidos e olhos vermelhos pairavam sobre as muitas expressões que perambulavam silenciosamente pela casa.

Viu sua mulher amparada por algumas amigas e por instantes atinou que o silêncio foi de modo tênue, quebrado por burburinhos em uníssono. Mas ele não decodificou o porquê, tambem não entendeu como as pessoas ali podiam ficar desanimadas num dia de radiante beleza. Pois ao abrir as janelas ele vislumbrava a luz do sol numa simetria de cores engastadas em padrões, como se minúsculas pedras preciosas tivessem sido costuradas num tecido de voile esvoaçante que se movia em ondas espalhando-se por todos os lados. Ele sentiu-se maior que a vida, como se pudesse flutuar sobre os demais. Não sentia dor, nem mesmo as de cabeça que eram constantes. Na verdade, nunca havia se sentido tão bem, tão preenchido e ao mesmo tempo, tão leve. Sentia-se inteiro. Sua cabeça estava límpida e ele respirava profundamente todos os odores da natureza de seu Valle de encantamentos, de seu Fausto Valle.

Olhou outra vez para Goiânia e achou-a muito linda, olhou para todos os seus e meneou a cabeça negativamente, como se lhes dissesse para aproveitar a beleza dos dias... em seguida, como se fosse mágica, estava de volta ao seu Valle... assim, deitou-se na grama e foi levado pelo entorpecimento, apalpou o solo como se quisesse agarrar em algo tangível diante daquela chuva de imagens e pela primeira vez, em anos, não sentiu coisa alguma a lhe perturbar, nenhum tipo de preocupação o possuíra e ele estava convicto de que havia escolhido o momento certo para descansar às margens do Fausto lago de seu Valle.

Assim ele partiu, levando consigo a aurora do dia doze de maio e deixando-nos sem a poesia fausta que existia em seu vale de inspiração.

 Comentários:

por Maria Elizabeth fleury
"amei sua homenagem ao Fausto, sei que em sua nova morada está feliz... era uma alma boa, amiga e caridosa. Vc soube expressar poeticamente tudo que sentimos. bjos e obrigada "

por Ariana Valle
"Quero agradecer à todos os comentários carinhosos aqui colocados para o meu pai.Certificar que papai era admirado e respeitado por sua integridade e sensibilidade, nos traz um conforto, abrandando o nosso pranto. Abraços. Ariana Valle"

por Ariana Valle
"Clara, Tomei a liberdade de enviar para toda a minha família que não reside em Goiânia, o seu sensível texto narrando a partida do meu querido pai. O dia estava realmente lindo, parecia encomendado por alguém. Obrigada pela homenagem e um carinhoso abraço. Ariana Valle"

por Marisa (a)Penas.
"Oi, Clara, Obrigada por me brindar com esta página cheia de sensibilidade e a beleza serena referida à morte. Coisas frutos de uma amizade. Seu Valle estará a sorrir frente a tamanho carinho. Parabéns e beijo,"

por Moema de Castro
"Clara, um texto que é uma lágrima formatada poeticamente. Parabéns! Neste dia doze, quando , reunida com meus filhos, que vieram abraçar-me pelo meu aniversário, recebi, com dolorosa surpresa, a notícia do falecimento do escritor Fausto do Valle, com quem havia comentado, há algum tempo, a alta qualidade de seu livro" Um boi no telhado", o que lhe causou manifestação de alegria, senti, duplamente, não só a perda de um bom escritor, quanto de um homem culto e amigo.. Que pena! Abraço, de modo especial, aos colegas da UBE, em que você se inclui. Abraços carinhosos. "

por Maria Aparecida Barbo
"Lindo seu conto! Acho que você também se inspira no mesmo vale. Abraços e boa semana."

por Lêda Selma
"Muito bem, menina, bela e fausta homenagem ao querido amigo/escritor/poeta, parabéns! Muita sensibilidade e poesia em seu texto. No final do ano passado, coloquei no muro do Goiás Esp. Clube um poema do Fausto, dentre os 12 lá transcritos. Ele o fotografou, animado, e, pelo telefone, agradeceu-me "a gentileza poética". Uma criatura e tanto, o Fausto! Ah! veja que coisa gratificante: 5ª feira passada, a abertura do show do Mílton Nascimento foi marcada pela declamação do meu poema VOA (aquele musicado pelo Ivan Lins). E eu não estava lá, acredita? Beijocas. Lêda"

por Antonio Vilela
"Olá, menina comunicadora: nesse seu avançado posto de observação literário, assimilando as vibrações e emoções de escritores, com muitos deles trocando "imêios", terá, com alguma frequência os sobressaltos das perdas, mais pronunciadas na Terceira Idade, presumindo o rito de passagem, de quem já cumpriu suas tarefas no planeta "azul". A vida humana é assim mesmo, muitos chegando e uns tantos e quantos indo embora. Fausto Valle deixou, para os que o leram, para que os conheceram, a certeza de uma existência bem vivida, profícua e inspiradora de crescimento interior. Muito oportuna a sua crônica, sabe bem que sou seu leitor. Com a atenção e o carinho literário deste colega de escrevinhações. Antônio."

C( L) A R A - por Marisa (a)Penas

O que se passa na raça                                  
de *Neura em graça e grassa
a não ser a gentil flor
enfeitando seu andor?...
                                
Nesse jeito ajeitado, pleno,                               
faz-se um andaime sereno,
sustentando um divertido
argumento claro e vivido.
Espelho limpo do feminino
reflete gostoso humor fino
em misturas do trivial:
as sutilezas como varal.

Maior que o andaime, é a mão
da carinhosa confecção:
falar do outro, a camuflagem,
competência na passagem
de ser c(l)ara pelo patamar
com escrita singular.
C(l)aridade com meu  expor:
congratulações pequenas
                                        de Marisa (a)Penas.

* Um dos principais personagens de Clara Dawn                              
12/01/11.

Marisa (a)Penas é escritora

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

"Reminiscência" de Clara Dawn - por Reynaldo Jardim

"'...pois o móvel não coube em canto algum da sala'. Quem insere um alexandrino, assim como não quer nada em crônica/conto de prosa super elaborada, só pode ser competente poeta. Ao pé do texto um informação sucinta: Clara Dawn é romancista e escreve às segundas-feiras nesse espaço (Diário da Manhã - Goiânia). Nos outros dias da semana deve escrever em outros espaços. Duvido que em seu muito escrever não se dedique inundar de poesia textos de poemas. Não sei se Clara é uma jovem senhora ou uma senhora jovem. Sei que a jovialidade adulta de seu texto criativo revela uma escritora que causaria inveja a Clarice Lispector. Recentemente escrevi sobre Lívia Tappe, a mais luminosa outora surgida no Brasil e até na Europa(...) Agora Lívia está em Londres e o seu 'Cisão' será fatalmente vertido para o Inglês(...) e eu terei orgulho além de profanar seu trabalho, ter sido o primeiro a escrever um artigo revelando o novo talento. Agora, Clara Dawn, dizem que é pelo dedo que se conhece um gigante".



Reynaldo Jardim - jornalista e poeta




Reminiscência - disponível em http://claradawnescritora.blogspot.com/search?q=reminisc%C3%AAncia

"O Chapinesco" de Clara Dawn - por Celso Moraes Faria

"Teço modestas considerações acerca do mesmo. Longe de mim querer fazer um arremedo de crítica literária, são meramente opiniões de um leitor 'paisano'.

Gostei do início 'Perto, muito perto', numa resposta ao clichê do 'longe, muito longe', tão comum e cansativo dos contos de fadas. A descrição minuciosa do cenário faz com que a gente 'veja' o vilarejo com os olhos de nossa mente, e chegamos a acreditar – mercê do pacto de leitura – que tal lugar efetivamente existe. Um lugar de antíteses, expressas aqui e ali, como na expressão 'esgoto adentro e rio afora'.

Interessante as palavras derivadas do nome do criador do imortal Carlitos. O adjetivo 'chaplinesco' e o verbo 'chaplinescar' trazem à memória o andar bamboleante do inesquecível personagem, e eu cheguei mesmo a 'vê-lo' na inglória luta com a sua sopa de sapato.

Singular vilarejo, que se permite o luxo de ter uma réplica da igreja parisiense de Val-de-Grâce; imagine-se a quietude e a tranquilidade desse lugarejo, um verdadeiro Vale da Graça, que só não é perfeito, apesar da ruína, porque ali 'sempre chove'.

Trata-se de um conto em que, mais importante que a ação, é fundamental a descrição do panorama e a construção psicológica dos personagens. O pedinte que 'não usava botas de borracha e tampouco possuía um guarda-chuva' é um primor de criatividade, sentado na calçada a filosofar com a propriedade de um Rousseau. Seu vocabulário, erudito e rico, contrasta com a ideia que se tem de um mendigo interiorano. Mas, a bem da verdade, aqui mesmo em São Luís de Montes Belos há um sujeito maltrapilho que vaga pelas ruas e discorre com propriedade acerca de assuntos complexos, sendo também, aparentemente, um expert em Química, sabendo de cor a tabela periódica (!). Vida imitando a arte, e vice-versa.

O fecho do conto, o diálogo à primeira vista pleno de nonsense, encerra de forma incisiva o texto, deixando o leitor comum (os não iniciados, não como nós, que lemos muito e chegamos a um patamar mais elevado) a se perguntar 'que parte eu não entendi?' ou mesmo 'há algo mais para se entender aqui?'.
Enfim, gostei do texto. Um grande abraço de seu leitor". 

 Celso Moraes Faria é professor em São Luís de Montes Belos